quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Um terço (1/3)

 Texto escrito para o concurso literário: 60 anos do MPDFT, eu faço parte dessa história


 

Um Terço...sim, é exatamente isso que você está pensando! Na semana que antecedeu minha prova oral para o cargo de Promotor de Justiça Adjunto do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios eu rezei o Terço Milagroso de Nossa Senhora Aparecida, de quem sou devota desde a meninice.

Era tudo ou nada, caso de vida ou morte, pois eu tinha acabado de me casar e buscava estar próxima do meu amado, então Promotor de Justiça no Estado de Goiás.  Meu coração estava apertado, pois sabia o quanto essa aprovação era importante, não só por realizar o meu sonho de ser aprovada e exercer a função que me levou a prestar novo vestibular e ingressar na Faculdade de Direito, onde eu acabara de concluir o curso de Letras, mas para poder vivenciar a plenitude de um amor que se iniciou na entrada da carceragem da Delegacia de Polícia de uma aprazível cidade do interior de São Paulo.

Ele, o Oficial de Justiça da Vara Criminal da Comarca e eu a Delegada de Polícia e Diretora da Cadeia Pública local. O alvará que ele trazia libertou um detento e aprisionou o meu coração...e lá se vão 26 anos de uma paixão avassaladora e que deitou frutos no solo fértil do Centro-Oeste. A passagem pela Polícia Civil teve um propósito: reencontrar minha alma gêmea e, no final de 1996, tudo o que eu mais queria era que essa união realmente desse certo, pois nessa altura ele era o mais novo e cobiçado integrante do Parquet Goiano.

E a Santa Milagrosa teve então um duplo desafio: além de me arrumar um marido naquela altura do campeonato, aos 30 anos do segundo tempo, quando a peleja já era dada por perdida por boa parte da família, ainda foi conclamada a auxiliar-me na aprovação em dificílimo certame do MPDFT e cumprir a promessa que fiz a mim mesma quando participei pela primeira vez como jurada do 1º Tribunal do Júri do Estado de São Paulo e sorteada, fui enfeitiçada pela fala do então Promotor de Justiça, Dr. Guerra Ahmed e ali vaticinei o meu destino: vou ser Promotora de Justiça!

E deu certo!!!! Quem entra na Capela dos Milagres da Basílica de Nossa Senhora Aparecida vê logo duas fotos no teto: uma do meu casamento e outra da minha posse, ocorrida em 05 de fevereiro de 1997. E de lá pra cá sou só gratidão e procuro atuar de forma a fazer valer a honrosa missão que me foi confiada, pois não é por acaso que uma menina nascida na periferia de São Paulo chegaria em tão distinta posição, senão fazer valer a vez e a voz daqueles que desconhecem seus direitos, lutar pela prevalência da lei acima de interesses outros que não a justiça.

Um terço...sim, eu faço parte de um terço dos 60 anos do MPDFT, com muito orgulho! Já são mais de 23 anos de dedicação a essa Instituição que me acolheu e me deu todas as condições de concretizar meus ideais de justiça e de servir ao outro, aquele que é a razão de ser e de existir de todos os que assumiram o corajoso compromisso de promover a justiça.

Não tem sido fácil se manter no ringue e lutar o bom combate, desde minha primeira lotação, na promotoria de justiça criminal de uma circunscrição regional relativamente distante, até a presente data, em que sou titular de um ofício especializado, me deparo com situações que denotam a urgência de resgatarmos a credibilidade da sociedade nas instituições e nos seus integrantes. Há também uma crise de valores que precisa ser revertida e só através de um Ministério Público forte, independente e atuante seremos capazes de entregar os resultados que a comunidade do Distrito Federal espera.

Um terço...não!!!! Somos o Terço da Armada, o corpo de guerreiros do Ministério Público Brasileiro e não vamos baixar a guarda. E que as batalhas travadas nesses 60 anos de MPDFT sirvam de orgulho para aqueles que já não estão mais no front e estímulo para tantos outros que, como eu, não desistem de empunhar a espada.