segunda-feira, 21 de dezembro de 2020
Histórias de Natal
segunda-feira, 14 de dezembro de 2020
Somos hóspedes
A existência é de uma precariedade sem tamanho, pois no mesmo instante em que nascemos já estamos a morrer um bocadinho a cada dia e sem parar, na certeza de que partiremos como chegamos: sem nada levar.
E mesmo diante do efêmero, da provisoriedade do ser e estar, muita energia vital é desperdiçada em nome do ter (bens, títulos, status), sem muita preocupação com a essência, com o bem viver em termos de experiências, sentimentos, sensações e emoções.
E nesse ciclo evolutivo somos apanhados de surpresa (pobres e nus, como bem disse Fernando Sabino) quando compreendemos que nada é nosso e tudo nos é emprestado.
Somos hóspedes da nossa própria casa, proprietários transitórios durante o tempo que tivermos de vida. Somos hóspedes do Planeta Terra e do corpo material (vestes físicas) com o a qual atravessaremos a existência.
E após a nossa partida para outra dimensão continuaremos hóspedes nas lembranças daqueles que com quem tivemos uma convivência mais próxima.....saudades, fotos e um legado feito de momentos (nem sempre felizes), fragmentos de uma ausência quiçá sentida.
E pouco a pouco os ciclos vão se encerrando, as inexoráveis mudanças se impõem (físicas, de endereço, de interesses), além da diminuição paulatina da bagagem (dos pesos, das expectativas, do tônus muscular) até que venha o último suspiro.
Errática e errante, vou seguindo viagem com a consciência que as perdas e os necessários abandonos que fui protagonizando durante a jornada fez-me o que eu sou e tornou-me única, disponível e presente no aqui e no agora.
"E se um dia hei de ser pó, cinza e nada, que seja minha noite uma alvorada, que eu saiba me perder para me encontrar..." (Florbela Espanca).
sábado, 14 de novembro de 2020
Alma de pipa avoada
Ela é tão livre que um dia será presa.
-Presa por quê?
- Por excesso de liberdade.
- Mas essa liberdade é inocente?
-É. Até mesmo ingênua.
- Então por que a prisão?
- Porque a liberdade ofende.
Clarisse Lispector
Em homenagem a todos os seres libertos por natureza, cuja essência ignora padrões externos e opiniões alheias.
É evidente que essa liberdade cobra um preço alto, mas pago feliz, pois não há nada mais importante do que a minha paz de espírito. Migalhas não alimentam minha auto estima, pois sei do meu valor e não espero de ninguém o reconhecimento dos meus feitos e tão pouco dos meus desacertos, apesar de saber que não faltam dedos apontados e línguas afiadas pela crítica vazia.
Seguindo em frente e sem tempo para perder com perfumarias. O tempo urge e é precioso demais para ser desperdiçado com banalidades. Os ponteiros correm depressa e de encontro às prioridades, pedindo bagagem leve e alma disponível.
"É que eu tenho alma de pipa avoada".
quarta-feira, 14 de outubro de 2020
Um terço (1/3)
Texto escrito para o concurso literário: 60 anos do MPDFT, eu faço parte dessa história
Um Terço...sim, é
exatamente isso que você está pensando! Na semana que antecedeu minha prova
oral para o cargo de Promotor de Justiça Adjunto do Ministério Público do Distrito
Federal e Territórios eu rezei o Terço Milagroso de Nossa Senhora Aparecida, de
quem sou devota desde a meninice.
Era tudo ou nada, caso de
vida ou morte, pois eu tinha acabado de me casar e buscava estar próxima do meu
amado, então Promotor de Justiça no Estado de Goiás. Meu coração estava apertado, pois sabia o
quanto essa aprovação era importante, não só por realizar o meu sonho de ser
aprovada e exercer a função que me levou a prestar novo vestibular e ingressar
na Faculdade de Direito, onde eu acabara de concluir o curso de Letras, mas para
poder vivenciar a plenitude de um amor que se iniciou na entrada da carceragem
da Delegacia de Polícia de uma aprazível cidade do interior de São Paulo.
Ele, o Oficial de Justiça da
Vara Criminal da Comarca e eu a Delegada de Polícia e Diretora da Cadeia Pública
local. O alvará que ele trazia libertou um detento e aprisionou o meu coração...e
lá se vão 26 anos de uma paixão avassaladora e que deitou frutos no solo fértil
do Centro-Oeste. A passagem pela Polícia Civil teve um propósito:
reencontrar minha alma gêmea e, no final de 1996, tudo o que eu mais queria era
que essa união realmente desse certo, pois nessa altura ele era o mais novo e
cobiçado integrante do Parquet Goiano.
E a Santa Milagrosa teve então
um duplo desafio: além de me arrumar um marido naquela altura do campeonato,
aos 30 anos do segundo tempo, quando a peleja já era dada por perdida por boa
parte da família, ainda foi conclamada a auxiliar-me na aprovação em dificílimo
certame do MPDFT e cumprir a promessa que fiz a mim mesma quando participei
pela primeira vez como jurada do 1º Tribunal do Júri do Estado de São Paulo e
sorteada, fui enfeitiçada pela fala do então Promotor de Justiça, Dr. Guerra
Ahmed e ali vaticinei o meu destino: vou ser Promotora de Justiça!
E deu certo!!!! Quem entra
na Capela dos Milagres da Basílica de Nossa Senhora Aparecida vê logo duas
fotos no teto: uma do meu casamento e outra da minha posse, ocorrida em 05 de
fevereiro de 1997. E de lá pra cá sou só gratidão e procuro atuar de forma a
fazer valer a honrosa missão que me foi confiada, pois não é por acaso que uma
menina nascida na periferia de São Paulo chegaria em tão distinta posição,
senão fazer valer a vez e a voz daqueles que desconhecem seus direitos, lutar
pela prevalência da lei acima de interesses outros que não a justiça.
Um terço...sim, eu faço
parte de um terço dos 60 anos do MPDFT, com muito orgulho! Já são mais de 23
anos de dedicação a essa Instituição que me acolheu e me deu todas as condições
de concretizar meus ideais de justiça e de servir ao outro, aquele que é a
razão de ser e de existir de todos os que assumiram o corajoso compromisso de
promover a justiça.
Não tem sido fácil se
manter no ringue e lutar o bom combate, desde minha primeira lotação, na promotoria
de justiça criminal de uma circunscrição regional relativamente distante, até a
presente data, em que sou titular de um ofício especializado, me deparo com
situações que denotam a urgência de resgatarmos a credibilidade da sociedade
nas instituições e nos seus integrantes. Há também uma crise de valores que
precisa ser revertida e só através de um Ministério Público forte, independente
e atuante seremos capazes de entregar os resultados que a comunidade do
Distrito Federal espera.
Um terço...não!!!! Somos o
Terço da Armada, o corpo de guerreiros do Ministério Público Brasileiro e não vamos
baixar a guarda. E que as batalhas travadas nesses 60 anos de MPDFT sirvam de orgulho
para aqueles que já não estão mais no front e estímulo para tantos outros que,
como eu, não desistem de empunhar a espada.