Faz algum tempo que redescobri o prazer das artes manuais, principalmente a pintura, o crochê e tricô.
Pode ser a necessidade de trabalhar com liberdade e criatividade, tudo que não é permitido no universo jurídico, circunscrito por leis, normas e procedimentos que se repetem e se retroalimentam.
Há modelos a serem seguidos, regras que devem ser observadas e a ritos a serem seguidos, tudo em consonância com um sistema autopoietico e preestabelecido.
Já com as agulhas e sou livre para criar......sou eu quem decido o que fazer, como, pra que, pra quem e quando.
Eu escolho a textura da lã, a cor e passo a tecer minha obra de arte, sempre única, primeira e definitiva, mesmo que eu faça mais mil vezes aquela mesma peça.....nunca uma é igual a outra, pois é diferente o sentimento, a emoção e o momento da confecção.
Geralmente quando estou a tricotar fico entrelaçando meus pensamentos junto com os fios da lã......enquanto o novelo vai desenrolando, vou desembaraçando meus ais e minhas agonias.....a cada laçada, vou amarrando minhas ansiedades e desilusões e prendendo tudo numa mesma carreira.
Assim como na vida, trabalho muito com pontos altos e baixos....às vezes a linha embaraça e eu acabo perdendo a paciência..... largo tudo e deixo passar a raiva.....depois volto e, com toda a calma do mundo, desfaço todos os nós, um a um, pois sei que a qualidade da peça depende muito do material usado e sua aparência.
Tal qual uma aranha vou tecendo a minha teia e nela deposito minha esperança e meus sonhos......ao término de cada trabalho eu sempre me surpreendo com a beleza da peça tecida. Descubro, encantada, que de um punhado de lã toda enroladinha posso fazer coisas líndissimas....ou não, depende de mim o resultado....só de mim, não da lã.....ela está sempre lá, esperando para ser utilizada, a forma depende de cada artesão.
É nesse vai e vem das minhas agulhas que vou encontrando muito das respostas que busco, dentro e fora de mim.
No mesmo momento em que ocupo minhas mãos e meus pensamentos, sinto uma paz imensa no coração.....é como um resgate do que fui, um afago no que sou e um abraço gostoso no que ainda poderei ser.