terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Do direito ao esquecimento



Numa época em que as informações são eternizadas na esfera virtual, assombrando e reverberando os fantasmas do passado, há que se discutir, não só na seara jurídica-social, como também na psico-emocional, o sagrado direito ao esquecimento, à possibilidade de se reescrever a própria história, refazer rotas e não acessar infinitamente lembranças por demais dolorosas.
Como já disse Freud, a própria existência da pessoa é pautada por processo de remoção de fatos traumáticos que ficam retidos no inconsciente humano, de forma que a consciência da pessoa possa sobreviver sem a dor de eventos indesejados.
O direito ao esquecimento, ao perdão, à não culpa fazem parte de um processo de remodulação do nosso campo emocional, a partir da desconstrução de imagens, símbolos e sentimentos avidamente alimentados desde a mais tenra infância, para que seja possível a sobrevivência do próprio ser, para que se tenha um pouco de paz e o mínimo de qualidade de vida.
Ouso dizer que estamos todos doentes e muitas das nossas enfermidades se retroalimentam dos erros e decisões equivocadas do passado e, numa autofagia sem limites, tal qual Prometeu, vivemos acorrentados e aprisionados pelo pretérito imperfeito, num castigo imposto por nós mesmos, talvez no afã de domesticar nossos instintos mais maléficos.....o medo de enfrentar o ser das sombras que fazemos questão manter trancafiado nos porões do nosso inconsciente.
Vamos nos permitir um alento, deixemos que o bálsamo do tempo leve consigo aquilo que não nos faz bem, memórias negativas e intemperanças que não nos é mais possível modificar. Que permaneçam apenas o aprendizado e a experiência, ingredientes essenciais para a manutenção da esperança de ser, a cada dia, uma pessoa melhor.
Lembra-te de esquecer.

“Viver é um livro de esquecimento
Eu só quero lembrar de você até perder a memória”.
(Elevador, Ana Carolina)