segunda-feira, 11 de maio de 2020

Signo da alma




Sentimentos expressos em letras, benditas palavras que me revelam e consolidam o que eu sou e como eu sinto a vida em todas as suas perspectivas.
Os signos que desnudam os porões do meu inconsciente e constroem uma escada de acesso ao mundo externo, pontes de conexão com o outro e o seu complexo universo de entendimento.
É preciso uma dose extra de coragem para tamanha exposição, colocar-se na vitrine e sob o escrutínio alheio, lentes que nem sempre alcançam a clareza do objeto em evidência ou da mensagem implícita na sua concepção, por conta de inúmeras circunstâncias que embaçam o olhar acostumado à rotina dos iguais.
Desde menina tenho paixão pela arte da escrita e agradeço à minha mãe por ter me apresentado o alfabeto aos 5 anos e ter me iniciado nessa caminhada fascinante pelo universo das letras, que culminou com a escolha da minha primeira graduação universitária, nos idos de 1986.
E a jornada continua prazerosa, sendo que mais recentemente a escrita tem sido um exercício de catarse pra mim, onde dou forma aos inúmeros pensamentos (nem sempre agradáveis) que brotam em profusão dentro de mim, uma libertação do peso que às vezes oprime o meu coração. E assim sigo dando forma a sensações muitas vezes desconhecidas, vou construindo caminhos e recortando paisagens mentais, transformando significados, sem receio de trazer para a luz o que se esconde nas camadas mais profundas do meu ser.
Como bem disse Cardinale, "quando escrevo, eu me inscrevo. Fico impressa, concretizada, ganho corpo, forma. E é esse outro corpo-eu-forma que entrego - me entrego - inteira para o leitor. Não é pouca coisa".
Sobre o tema Freud afirmou que "para muitas pessoas, o texto não flui. Ele sai receoso, com medo do ato de imprimir-se. Pode tratar-se, neste caso, de um medo maior de concretizar-se e entregar-se. Medo da possibilidade de o outro nos pegar, analisar, perceber nossos defeitos. Trata-se de uma espécie de desnudar-se e colocar-se diante das outras pessoas como objeto de análise".
Sou adicta em escrita e, em tempos que a trama comunicacional supervaloriza a imagem e o som, com gatilhos rápidos e armadilhas que prendem a atenção do receptor sem levá-lo, necessariamente a algum tipo de reflexão que faça sentido em sua vida, faço questão de mergulhar fundo nas palavras, tecendo meu casulo, minha inexorável mortalha.