Essa pequena obra prima de Clarissa Pinkola Estés contém diversos contos e pequenas fábulas em que o personagem central é seu querido Tio Zovár, um velho camponês sobrevivente dos campos de trabalhos forçados da Europa durante a 2a. Guerra Mundial, com quem a autora trava diálogos belíssimos, revivendo sua trajetória de persistência e fé, bem como testemunhando sua incrível força quando o ele decide replantar uma floresta inteira, devastada pela sanha civilizatória.
Segue um pequeno trecho desse tesouro:
"Enquanto caminhávamos, titio matutava: 'Já ouvi pessoas
perguntando onde fica o jardim do Éden. Ora! Qualquer lugar que se pise nesta
terra é o jardim do Éden. Toda esta terra, por baixo dos trilhos de trens e das
rodovias, da sua roupagem gasta, do seu entulho, de tudo isso, é o jardim de
Deus – ainda com o frescor do dia em que foi criado.
É verdade que em muitos lugares o Éden está enterrado
e esquecido, mas o jardim pode ser restaurado. Onde quer que haja
terra sem uso, mal utilizada ou exausta, o Éden ainda está bem ali embaixo.'
Foi assim que aprendi que esta terra, da qual
dependíamos para nossa alimentação, nosso ganha-pão, nosso descanso, para a
oportunidade de ver a beleza, deveria ser tratada da mesma maneira que
esperaríamos tratar os outros e a nós mesmos. O que quer que seja que aconteça
a este campo, de algum modo, também acontece a nós."
Recomendo muitíssimo a leitura desse pequeno grande livro que numa narrativa singela e ao mesmo tempo profunda, nos ensina que a semente nova enraíza com mais profundidade e força em espaços vazios, revirados e destruídos, trazendo em si a renovação, a crença e a fé no movimento sagrado da vida.
Boa leitura!