sábado, 18 de junho de 2011

Sou tantas e nenhuma me tem de verdade.....






Rústica - Florbela Espanca



Ser a moça mais linda do povoado,

Pisar, sempre contente, o mesmo trilho,

Ver descer sobre o ninho aconchegado

A benção do Senhor em cada filho.



Um vestido de chita bem lavado,

Cheirando a alfazema e a tomilho...

Com o luar matar a sede ao gado,

Dar às pombas o sol num grão de milho...



Ser pura como a água da cisterna,

Ter confiança numa vida eterna

Quando descer à "terra da verdade"....




Meu Deus, dai-me esta alma, esta pobreza!

Dou por elas meu trono de Princesa,

E todos os meus Reinos de Ansiedade.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Fragmentos de Rubem Alves





" A VIDA É ASSIM: A GENTE ESCOLHE UM CAMINHO NA ESPERANÇA DE QUE ELE VÁ NOS CONDUZIR A UM LUGAR DE ALEGRIA. TOLOS, PENSAMOS QUE A ALEGRIA ESTÁ AO FINAL DO CAMINHO. E CAMINHAMOS DISTRAÍDOS SEM PRESTAR ATENÇÃO. AFINAL DE CONTAS, CAMINHO É SÓ CAMINHO, PASSAGEM, NÃO É PONTO DE CHEGADA. COM FREQUÊNCIA, A GENTE NÃO CHEGA LÁ, PORQUE MORRE ANTES. MAS HÁ UNS POUCOS QUE CHEGAM AO LOCAL SONHADO - SÓ PARA DESCOBRIR QUE A ALEGRIA NÃO MORA LÁ. CAMINHARAM SEM COMPREENDER QUE A ALEGRIA NÃO SE ENCONTRA AO FINAL, MAS ÀS MARGENS DO CAMINHO; ELA SE DISPÕE PARA A GENTE É NO MEIO DA TRAVESSIA...."
- VARIAÇÕES SOBRE O PRAZER.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Aos "fabulosos" de sempre, a parábola dos que "tem sempre razão" -



O LOBO E O CORDEIRO

Um cordeiro a sede matava
nas águas limpas de um regato.
Eis que se avista um lobo que por lá passava
em forçado jejum, aventureiro inato,
e lhe diz irritado: - "Que ousadia
a tua, de turvar, em pleno dia,
a água que bebo! Hei de castigar-te!"
- "Majestade, permiti-me um aparte" -
diz o cordeiro. - "Vede
que estou matando a sede
água a jusante,
bem uns vinte passos adiante
de onde vos encontrais. Assim, por conseguinte,
para mim seria impossível
cometer tão grosseiro acinte."
- "Mas turvas, e ainda mais horrível
foi que falaste mal de mim no ano passado.
- "Mas como poderia" - pergunta assustado
o cordeiro -, "se eu não era nascido?"
- "Ah, não? Então deve ter sido
teu irmão." - "Peço-vos perdão
mais uma vez, mas deve ser engano,
pois eu não tenho mano."
- "Então, algum parente: teus tios, teus pais. . .
Cordeiros, cães, pastores, vós não me poupais;
por isso, hei de vingar-me" - e o leva até o recesso
da mata, onde o esquarteja e come sem processo.

La Fontaine

Moral da fábula: (A razão do mais forte é a que vence no final ou, é perda de tempo discutir com um insensato, ainda mais quando ele tem poder)