sexta-feira, 10 de junho de 2011

A sabedoria dos roçeiros










Dias atrás eu explicava ao meu filho Arthur o quanto o saber e o conhecimento eram democráticos.


Dizia-lhe que a observação atenta da vida poderia tornar um homem da roça


num ser mais sábio do que muitos doutores da academia.


Não é qualquer um que conhece a natureza do ser e das coisas e consegue compreendê-la e admirá-la sem modificar a sua essência.


Ditos roçeiros, considerados ignorantes e grossos por boa parte da elite pensante* (*subproduto social que confunde dinheiro e poder com sabedoria e cultura), não raras vezes nos surpreendem com a profundidade de um comentário ou de um conselho.....quando desatam a contar "causos", então, pode esperar que a pescaria será farta.


Falo isto porque nunca fui afeta a rebuscados discursos, conglomerado de palavras vazias e sem sentimento, talvez isto explique a minha predileção por Alberto Caeiro em detrimento de Ricardo Reis e Álvaro de Campos.....desde menina sou assim, sem paciência para conversa fiada.


Gosto mesmo de saborear as histórias do "Seu Nikito Chaves", da prosa boa do "Véio Pedro Marques", das benzeduras da Dona Maluzinha, nordestina arretada e, das teorias malucas do Paulinho Leardini. Na mais pitoresca delas, ele afirma que o "casamento é uma mala", que deve ser organizada só com aquilo que o casal realmente precisa carregar para a vida em comum.....como não cabe tudo que cada um traz na bagagem "de solteiro", há que se fazer escolhas e concessões, pois o espaço é diminuto pra tanto badulaque e lixo "acumulado" por cada consorte....e aí começa o teste de fogo, diz meditabundo, o sábio taxista, ex-pedreiro e ex-operário de fábrica do interior paulista....é ai que a "porca torce o rabo", pois tem gente que não consegue abrir mão nem dos próprios fantasmas, quanto mais dar de si para o outro também existir.....difícil né, coisa de doido!


E é então que entram os conselhos práticos da Madame Doralice e as premonições da vidente Dona Yolanda, mulheres simples e pouco letradas, contudo, certeiras como as pragas do Egito.....coisa de mãe por certo, seres incompreensíveis e que transitam entre o céu e o inferno com a maior naturalidade e desenvoltura, tudo em nome da felicidade de seus rebentos......bem, mais esta é outra história, que ficará para outro dia...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

O sorriso dos covardes





O sorriso de um covarde pode ter vários significados, depende do contexto.


Nunca é só um simples sorriso, sinal de alegria e contentamento.


Isso é para as crianças e para os corajosos, os de corpo e alma,


que dormem em paz após um dia de trabalho duro.


Já para os fracos de alma, curingas sociais, o sorriso pode ser medo,


vergonha, ou canalhice mesmo.....riso frouxo da desgraça que espalha.


Os pusilânimes, quase sempre, são muito sorridentes e buscam


lucrar com cada postura (ação ou omissão) que assumem.....nada é em vão.


E por conta deste mercado de "favores", os covardes assumem cargos altíssimos,


e passam a vida sorrindo e transigindo com a a ética, a moral e a justiça,


a fim de se manterem neste Olimpo pantanoso, verdadeiro umbral.


Há um ditado espanhol que diz que "O mundo é de Deus, mas


Deus o aluga aos corajosos".


A coragem de que se fala é a ousadia de ver a vida sempre com os olhos da primeira vez,


é saber escolher entre a justiça e o Direito, tratando todos da mesma forma, do mais rico


ao mais pobre, sem distinção ou casuísmos oportunistas.


O sorriso valente, destemido e livre.......este sim vale o preço!



terça-feira, 7 de junho de 2011

Ofereço uma música pra vc......





Há Tempos - Legião Urbana

Parece cocaína
Mas é só tristeza
Talvez tua cidade
Muitos temores nascem
Do cansaço e da solidão
Descompasso, desperdício
Herdeiros são agora
Da virtude que perdemos...

Há tempos tive um sonho
Não me lembro, não me lembro...

Tua tristeza é tão exata
E hoje o dia é tão bonito
Já estamos acostumados
A não termos mais nem isso...

Os sonhos vêm e os sonhos vão
E o resto é imperfeito...

Dissestes que se tua voz
Tivesse força igual
À imensa dor que sentes
Teu grito acordaria
Não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira...

E há tempos
Nem os santos têm ao certo
A medida da maldade
E há tempos são os jovens
Que adoecem
E há tempos
O encanto está ausente
E há ferrugem nos sorrisos
Só o acaso estende os braços
A quem procura
Abrigo e proteção...

Meu amor!
Disciplina é liberdade
Compaixão é fortaleza
Ter bondade é ter coragem (Ela disse)
Lá em casa tem um poço
Mas a água é muito limpa...