Dias atrás eu explicava ao meu filho Arthur o quanto o saber e o conhecimento eram democráticos.
Dizia-lhe que a observação atenta da vida poderia tornar um homem da roça
num ser mais sábio do que muitos doutores da academia.
Não é qualquer um que conhece a natureza do ser e das coisas e consegue compreendê-la e admirá-la sem modificar a sua essência.
Ditos roçeiros, considerados ignorantes e grossos por boa parte da elite pensante* (*subproduto social que confunde dinheiro e poder com sabedoria e cultura), não raras vezes nos surpreendem com a profundidade de um comentário ou de um conselho.....quando desatam a contar "causos", então, pode esperar que a pescaria será farta.
Falo isto porque nunca fui afeta a rebuscados discursos, conglomerado de palavras vazias e sem sentimento, talvez isto explique a minha predileção por Alberto Caeiro em detrimento de Ricardo Reis e Álvaro de Campos.....desde menina sou assim, sem paciência para conversa fiada.
Gosto mesmo de saborear as histórias do "Seu Nikito Chaves", da prosa boa do "Véio Pedro Marques", das benzeduras da Dona Maluzinha, nordestina arretada e, das teorias malucas do Paulinho Leardini. Na mais pitoresca delas, ele afirma que o "casamento é uma mala", que deve ser organizada só com aquilo que o casal realmente precisa carregar para a vida em comum.....como não cabe tudo que cada um traz na bagagem "de solteiro", há que se fazer escolhas e concessões, pois o espaço é diminuto pra tanto badulaque e lixo "acumulado" por cada consorte....e aí começa o teste de fogo, diz meditabundo, o sábio taxista, ex-pedreiro e ex-operário de fábrica do interior paulista....é ai que a "porca torce o rabo", pois tem gente que não consegue abrir mão nem dos próprios fantasmas, quanto mais dar de si para o outro também existir.....difícil né, coisa de doido!
E é então que entram os conselhos práticos da Madame Doralice e as premonições da vidente Dona Yolanda, mulheres simples e pouco letradas, contudo, certeiras como as pragas do Egito.....coisa de mãe por certo, seres incompreensíveis e que transitam entre o céu e o inferno com a maior naturalidade e desenvoltura, tudo em nome da felicidade de seus rebentos......bem, mais esta é outra história, que ficará para outro dia...