Depois de muito relutar, acabei admitindo que eu e muitos dos meus colegas nos transformamos em
Feitores da pós-modernidade.....dentro de um sistema de justiça criminal que só funciona para os desvalidos, nada mais óbvia esta minha dura conclusão.
Não há como fugir desta triste constatação.......aliás, pensando bem, há muito em comum entre os escravos de outrora e os seres marginalizados de hoje (invisibilidade social, coisificação do ser, ausência de dignidade, etc), assim como, entre alguns operadores do direito (delegados, promotores, juízes) e os temidos capatazes da escravaria (o agir em nome do Rei e da Lei, respectivamente).
A época é outra, mas a essência do problema é a mesma: a lei não é igual para todos, principalmente na seara criminal, onde a mão forte do Estado só alcança aquele acusado que não dispõe
de recursos para contratar um advogado hábil, que transite bem nos Tribunais Superiores e seja conhecedor dos meandros do poder (nas três esferas).
Sempre haverá uma interpretação inovadora da lei em benefício de réus ilustres, uma brecha qualquer na legislação por onde os criminosos escapam, sorridentes e altivos, da condenação merecida.
O mais estarrecedor é ver o quanto isso tornou-se comum no Brasil, com direito a loas e elogios públicos aos "experts" que atuam (a preço de ouro) para livrar seus "inocentes-clientes-ricos" da justiça, mesmo sabendo-os culpados.
Interessante notar que tais "profissionais" não se sentem atingidos pela ação criminosa de seus clientes, é como se não fizessem parte da sociedade que foi roubada, enganada, lesada pela corrupção em larga escala, ou que vê seus filhos transformarem-se em zumbis do crack, quando não os perdem para sempre, vítimas de latrocinio, homicidio, etc......se acham inatingíveis, os pobres doutores mortais, cujas consciência há muito foram ceifadas pela ganância e pela cobiça.
O pior é que assim foi, é, e sempre será, pois tais distorções são culturais e estão enraizadas na sociedade e no ser, como estruturas fundantes da ideologia dominante, qualquer que seja ela.
A norma, o ser e o tempo.....aporias da história.