sexta-feira, 4 de março de 2011

Grito de Carnaval


A que ponto chegamos!

Em nome da boa convivência com o outro, transformamos hipocrisia em cordialidade.

Como vai o senhor......bom dia.....bom carnaval....entre outras doses diárias de falsidade.

A necessidade de pertencer a um determinado grupo e de ser aceito pelos seus mais ilustres integrantes faz estragos incomensuráveis na nossa auto-estima, pois acabamos sufocando o que há de mais genuíno em nós: nossas impressões e emoções.

Por conta desta simbiótica e muitas vezes doentia relação, destruímos a melhor parte de nós mesmos.

Os padrões normais de conduta que se espera de um indivíduo dito civilizado e, em permanente interação com seus semelhantes, frequentemente produz seres cínicos e anímicos, indiferentes a tudo que não lhe traga benefícios. Por outro lado, quando a situação lhes convém, tornam-se as pessoas mais amáveis do mundo.

Não há mais espaço para pessoas autênticas na sociedade de hoje, daquelas que defendem seu ponto de vista e sempre se posicionam perante os fatos da vida.

O elegante é ser equilibrado, para usar as palavras da moda: ponderado e razoável.

De preferência daquele tipo de gente cujas opiniões e emoções são sempre moderadas e moduláveis: perfeitamente "encaixáveis" em toda e qualquer situação ou ocasião: O "pretinho básico" do "closet" da vida. É tão igual e repetitivo, que ninguém nem nota a existência.

A verdade é que não existe posição cômoda para quem vive "em cima do muro", nem sendo felino dá pra viver 24 horas "desconfiado" e "fugindo" da vida.

Quem só dança conforme a música é demasiadamente infeliz, pois desconhece o imenso prazer de "ditar o ritmo da própria vida", sem ter que repetir (por obrigação ou falta de opção) a cansativa coreografia alheia.

Não existe ser humano neutro, esta é uma qualidade/propriedade das coisas ou objetos inanimados; não faz parte da natureza humana esta ausência de vida.

Testemunhamos uma era onde a inversão de valores é a tônica das relações inter e intra-pessoais: o "parecer ser" prevalece sobre o "ser em si", o real ser. Cultua-se a aparência de forma tão desesperada, na ânsia de desviar a atenção daquilo que realmente importa: a essência. Esse excessivo "investimento" na imagem é um claro sinal que o conteúdo é de duvidosa qualidade.

Para uma época em que a rapidez das "conexões" (leia-se: informações, relações, sensações, emoções, etc) nos remete ao trinfo e ao poder do individuo, nada mais compreensível do que a "casca" ser mais importante do que a "essência".

Clichês à parte, nada mais previsível considerando-se o quão miserável e pequena é a nossa condição humana.