terça-feira, 28 de agosto de 2018

Nigredo



Nigredo é uma palavra oriunda do Latim e pode ser traduzida como escuro. Na Mística é utilizada para descrever o primeiro passo do processo alquímico, qual seja: a morte espiritual, estágio de decomposição ou putrefação. Ato contínuo, tem-se os ciclos da purificação (albedo), do despertar (citrinitas) e o da iluminação (rubedo).  

Para Jung esta primeira etapa está relacionada à aceitação e integração da sombra, ou seja, das emoções, intuições, percepções e desejos que escondemos nos porões da psique, em razão da inadequação com os ditos padrões morais e éticos de uma determinada época e grupo social ou por revelarem defeitos e imperfeições que temos e não aceitamos.

Acessar essas áreas obscuras e encarar esse lado sombrio não é uma tarefa das mais fáceis e exige a coragem que tiveram Hércules, Orfeu, Enéias e, tempos depois, Dante e Virgílio, ao se aventurarem no Barco de Caronte, pelo rio do infortúnio.

A travessia desse deserto ou a passagem pela noite escura da alma, como bem definiu São João da Cruz, precisa ser feita a fim de que a nossa essência seja acessada, uma verdadeira itinerância em busca de discernimento, crescimento e aprimoramento espiritual.

Bem sei que desse ponto em diante não existe recuo. É um caminho sem volta. Sempre em frente e enfrente! Essa noite sombria é um divisor de águas, o prenúncio da transmutação, ressignificação e libertação de tudo que impede o fluir natural do eu e da vida

Há um oásis a espera daqueles que enfrentam as águas pantanosas do Estige e delas saem renovados e fortalecidos. E é esse sopro benfazejo que tem guiado a minha jornada, insuflando coragem em minhas entranhas e mantendo acesas as chamas dos meus ideais. É também ele que sussurra em meus ouvidos: - Não há o que temer, você está no caminho certo e fazendo o melhor possível. Siga em frente e mantenha-se em sintonia com os seus princípios e valores.

E assim, prossigo e confio. 

Sob a capa de carvão já vislumbro o fulgor do diamante.