quinta-feira, 10 de julho de 2014

Fazendo o possível


Desde menina sempre tive vontade de aprender a costurar para poder fazer minhas próprias roupas, modelos exclusivos, saídos diretamente das ideias mirabolantes que sempre povoaram minha mente.
Não deu, na correria da vida, divida entre trabalho e estudos, o tempo foi passando e só fui costurando, distraidamente, meus sonhos, desejos e experiências.
Tecelã e usuária de uma grande colcha de retalhos, pedacinhos dos meus inúmeros eus.....a criança de saúde frágil, a adolescente de temperamento explosivo, a mulher empunhando a armadura pesada diante das batalhas da vida, a amante, a amada, a filha, a irmã, a esposa, a mãe.....todas eu em essência.   
Dias multicoloridos, linhas finas, às vezes grossa.....nem tudo foram sedas, há muito de aspereza também, mas nada que comprometa a integridade do trabalho que vem sendo executado ao longo destes quase 49 anos.
Até o presente momento o que foi produzido tem lá a sua qualidade, nada muito sofisticado, apenas o necessário para uma sobrevivência digna e que reverta em frutos e aprendizagem para os que, muito além de mim, tecerão outras padronagens, veludos e rendas de melhor qualidade.
Sigo fazendo o possível, a costurar palavras, pensamentos e sentimentos em meio às ações diárias de transformação e entrega.
Trago em mim fantasias tão próprias, trajes quiçá exóticos, que um dia ainda hei de costurá-los para além dessa existência.