HÁ DIAS....
Bernardino Matos
Há dias que amanheço sem rumo, sem referência, tipo samba sem cadência, sem ter fim e nem começo.
Há dias que fico assim, querendo fugir do mundo, num desânimo profundo, distante até de mim.
Há dias que me pergunto, o que vim fazer aqui, se o céu é bem ali, pra que mudar de assunto?
Há dias em que procuro entender a minha história e revendo a trajetória, eu vejo tudo obscuro.
Há dias que não aceitoo meu envelhecimento, viro um poço de lamento, acho morrer um defeito.
Há dias que me isolo, vejo as pessoas correndo, uns nascendo, outros morrendo, sem nexo, sem fim, sem pólo.
Há dias em que me perco nas veredas que passei ,e não sei pra onde irei, a solidão fecha o cerco.
Há dias que considero viver um triste castigo, um caminhar sem abrigo, cada passo eu oblitero.
Há dias em que revejoo sentido do existir, do viver, amar, sentir, de um andar sem lampejo.
Há dias que, de repente, sinto com que perfeição é feita a renovação, nesse universo da gente.
Há dias em que reflito, seria um despropósito conviver num mundo inóspito, em permanente conflito.
Há dias então que sinto Deus acenando pra mim, não sou tão ingênuo assim, não te pus num labirinto.
Há dias que finalmente percebo a continuidade, o rumo da eternidade e vejo Deus no presente.
Há dias que me refaço, retomo o meu caminho, as rédeas do meu destino, afasto qualquer mormaço.
Há dias que acordo assim, pedindo a Deus perdão pela minha frouxidão, fico mais perto de mim.