domingo, 21 de dezembro de 2014

Pé na estrada!

E lá se vai 2014....e que venha 2015 com muitas realizações, bênçãos e vitórias. Esse não foi um ano fácil, mas acredito que tudo nesta vida tem uma razão de ser e é este o mistério, o sagrado, o insondável que torna tudo conectado neste vasto Universo.

"E assim seguimos a nossa estrada: eu e minha esperança. Com a bagagem cheia de nada e o coração transbordante de um quase tudo. Mas andei dois passos e achei grande demais esse mundo para andarmos sós. Então chamei a menina (aquela que certo dia eu fui), daí nós três demos nossas mãos, e partimos por esse destino que queríamos ter traçado, mas que sei que já tem seus próprios caminhos". 

Rô.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

A vida que pulsa.




Terra revirada, aberta e exposta, ávida pela semente que nela há de se deitar e acordar vida, broto, fruto e ser.
A primeira vista mais parece chão arrasado, solo seco, paisagem sem atrativos e completamente desnudada de vitalidade e beleza.....mas se você parar e olhar detidamente, há de enxergar um movimento de transformação em cada centímetro desta charneca e, se apurar ainda mais os sentidos, ouvirá ao longe os sons da seiva vital a percorrer o útero deste belíssimo campo santo, num espetáculo universal de renascimento sagrado.
O tempo de preparação não é nada comparado ao que virá depois. A demora será compensada pelo preenchimento de todos os espaços férteis e de duradoura colheita de âmbar e mel.
A obra de uma vida não acontece de repente, é mais uma construção diária de fé e coragem.
Resta-nos, então, cultivar a paciência na espera e a confiança de que tudo acontecerá no momento apropriado, pois cada pequeno passo, cada minuscula semeadura, nos conduzirá ao éden de nós mesmos, nosso reencontro com o numinoso, com a vida que transborda através de nós, para além de nós, apesar de nós.    

"Às vezes, o vazio não é um vácuo, mas sim uma longa gestação. A gestação pelos parâmetros do ego é sempre longa demais. Mas, pelos parâmetros da alma, a duração da espera e da criação interna, antes que o que está sendo criado se mostre externamente, é sempre a duração correta".  Clarissa Pinkola Estés - Libertem a mulher forte.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Atualizando o sistema


Estou longe de ser um MacBook de última geração, mas confesso que o meu hardware ainda funciona, embora com um sistema operacional meio carregado, talvez um pouco obsoleto para os padrões de hoje,
o que torna a velocidade de processamento das informações um pouco mais lenta, com a consequente falha de algumas conexões, mas nada que comprometa demais o desempenho da máquina. 
Tenho dado muitos comandos de control+alt+del na tentativa de liberar espaço na memória e fechar algumas telas inúteis, cancelado o excesso de tarefas, com o objetivo de impedir uma sobrecarga no sistema.
Quase sempre esqueço de atualizar o antivírus e ai começo a receber aquelas mensagens chatas, alertas do tipo: modificações prontas para serem instaladas, reinicialize o sistema. Uma luz fica piscando dentro de mim. Quando isto acontece, não tem como optar por "lembrar mais tarde" e continuar a navegar, pois o sinal é claro: algo não vai bem, melhor parar e recomeçar com mais segurança, sob pena do sistema travar.
Sigo assim, de tempos em tempos liberando a instalação de novos programas, esperando a reinicialização do sistema e dando quantos "enters" forem necessários para  que a conexão com o link vital seja completada com sucesso.  
Existe sempre uma atualização disponível para cada programa, cabe a nós a mudança.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

A indiferença mata.







A indiferença vai matando aos poucos, o sentimento e a pessoa.
Relações protocolares e funcionais nada mais são do que um abandono velado, um falseamento da realidade, onde um faz de conta que se importa e o outro finge que acredita que está recebendo a atenção merecida, até como uma desculpa, um jeito de sofrer menos. Um jogo de encenação onde todos os atores, conscientemente,enganam-se.
Situações desse naipe só revelam a profundeza do abismo que separam pessoas ligadas por laços de consanguinidade, porém afetivamente distantes umas das outras, perdidas em seus infernos particulares.
Não há vitimas, nem algozes....quiçá vencidos ou vencedores.... e numa completa simbiose entre ambos sobressai apenas o desamor, a dor de uma existência solitária, vivida na mais completa ausência de bem-querer.
E a vida passa tão depressa e nem percebemos o quanto deixamos de prestar atenção e dar valor para o que realmente importa. Nos distraímos com futilidades, somos experts em arranjar desculpas para não fazer o que realmente tem que ser feito, inventamos milhares de compromissos só para ocupar a mente e tentar desviá-la dos pensamentos incômodos, das cobranças, do sentimento de culpa, em última instância, do remorso que fatalmente nos visita na calada da noite.
E, ao fim e ao cabo, a nossa indiferença em relação ao outro também nos mata um pouco a cada dia e da forma mais cruel possível, pois arranca o que há de melhor em nós: a possibilidade de amar e de ser amado.       
  

sábado, 9 de agosto de 2014

Em algum lugar do tempo.....


E a letra da música que toca no rádio diz que " ....em algum lugar do tempo nós ainda estamos juntos, pra sempre, pra sempre, estaremos juntos....".
Verdade Pai, hoje você não está aqui, partiu do nosso convívio há quase 7 anos, mas as lembranças de tudo que compartilhamos permanecem vivas na minha memória.
Lembro-me bem quando na quinta-feira que antecedeu o dia dos Pais de 2007, avisei Celso que eu tinha resolvido viajar para São Paulo no dia seguinte, pois sentia que seria o último dia dos Pais que estaríamos juntos, em carne e osso, eu e você. Dito e feito, um mês depois você nos deixou.
Sinto saudades, é óbvio, mas sei que você cumpriu sua missão por aqui e que merecia descanso de todos os tormentos advindos dos problemas de saúde que foram se acumulando e debilitando seu corpo físico nos últimos anos de sua existência.
Chorei muito e ainda choro de saudade, pois de seus filhos sinto que eu fui a que mais desfrutou do seu lado bom, pois quando me dei por gente, você já estava mais maduro, tinha deixado de lado algumas ilusões que te entorpeciam a mente, mudando hábitos e amansando seu gênio de cão, tipo italiano do Sul piorado.
Somado a isso tem o fato de que você morou comigo, em Formosa, por quase 4 anos, tempo em que meus filhotes puderam curtir o vovô Pio fazendo arte na oficina, pegando passarinhos para o Arthur soltar, consertando o carrinho do Lucas....bons tempos.
O que mais alivia a dor de não poder te abraçar hoje, amanhã, que é Dia dos Pais, e depois, e depois, etc, vem da certeza que fui a melhor filha que eu poderia ter sido pra você, pois não poupei carinho, abraços, palavras, afeto e acolhimento. Fiz o que eu pude para te ver bem e aliviar ao máximo a sua carga e tenha certeza que eu faria muito mais se me fosse possível intervir e mudar o destino.
Sei das tuas imperfeições, assim como, conheço bem as minhas, porém aprendi que nada disso importa quando amamos verdadeiramente uma pessoa. Pela lente do amor enxergamos apenas aquilo que é essencial.
Grata pela vida, querido Pai, até nos teus erros mais banais você me ensinou como não ser, fazendo de mim uma pessoa melhor.
Grata pelo carinho que você sempre teve por mim e pelas renúncias que sei que fez por minha causa. Lembro-me de cada uma delas, pode apostar.
Quero que saiba que mesmo com todos os problemas e conflitos, foi importante crescer e ter você por perto. Do seu jeito sei que você me apoiava e vibrava com as minhas vitórias.
Herdei de você a paixão pela música, o gosto pela dança, pescaria e futebol, além, é claro, o temperamento impulsivo e o prazer inenarrável de soltar um sonoro palavrão nos momentos de raiva, ou seja, quase sempre.
Sinta-se abraçado por mim, hoje e sempre.
Estou vibrando para que todos os seus dias sejam de luz, onde quer que você esteja.
Beijos no seu big coração!
Sua sempre "matusquela", a boneca ligada no 220 volts como você costumava dizer.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Fazendo o possível


Desde menina sempre tive vontade de aprender a costurar para poder fazer minhas próprias roupas, modelos exclusivos, saídos diretamente das ideias mirabolantes que sempre povoaram minha mente.
Não deu, na correria da vida, divida entre trabalho e estudos, o tempo foi passando e só fui costurando, distraidamente, meus sonhos, desejos e experiências.
Tecelã e usuária de uma grande colcha de retalhos, pedacinhos dos meus inúmeros eus.....a criança de saúde frágil, a adolescente de temperamento explosivo, a mulher empunhando a armadura pesada diante das batalhas da vida, a amante, a amada, a filha, a irmã, a esposa, a mãe.....todas eu em essência.   
Dias multicoloridos, linhas finas, às vezes grossa.....nem tudo foram sedas, há muito de aspereza também, mas nada que comprometa a integridade do trabalho que vem sendo executado ao longo destes quase 49 anos.
Até o presente momento o que foi produzido tem lá a sua qualidade, nada muito sofisticado, apenas o necessário para uma sobrevivência digna e que reverta em frutos e aprendizagem para os que, muito além de mim, tecerão outras padronagens, veludos e rendas de melhor qualidade.
Sigo fazendo o possível, a costurar palavras, pensamentos e sentimentos em meio às ações diárias de transformação e entrega.
Trago em mim fantasias tão próprias, trajes quiçá exóticos, que um dia ainda hei de costurá-los para além dessa existência.     

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Reduzindo o peso



Não, não estou fazendo regime, embora fosse necessária uma redução drástica da minha gordura corporal. Estou a falar do peso emocional, da carga de cobranças e culpas, bagagem que carrego há tempos, deixando-me cansada, a padecer ultimamente de obesidade mórbida da alma.
Com o tempo tenho aprendido a difícil tarefa de diminuir o tamanho da "mala", a fim de tornar a jornada mais leve e aprazível. Cada vez mais preciso de menos coisas, só o essencial para locomover-me pelo mundo. Estou descascando, trocando de pele, mudando o grosso revestimento por um véu, refinando as camadas e deixando de lado o fardo pesado de ilusões, preconceitos e modelos préconcebidos de "dever-ser".  O volume de memórias inúteis também está sendo decotado, ajustando-se ao exato tamanho do aprendizado deixado por uma gama de experiências vividas. Tenho urgência em encontrar minha verdadeira essência, não disponho de tempo e nem disposição para superficialidades, rasuras inúteis e distrações que me desviam do verdadeiro caminho, do necessário encontro comigo mesma. Quero a alegria pura e ingênua daqueles que nada sabem, que flutuam pela vida como borboletas, folhas ao vento que não se importam com o momento do pouso, deitando-se ao solo sagrado do simples existir com imensa gratidão, deleite único dos que não estão preocupados com os mistérios do Universo, nem com as convenções sociais hipócritas do ter.  A lépida e faceira menina dança ao som da brisa do mar, e assim vai desfazendo-se das mágoas, desfiando as dores, despindo-se dos dissabores e tornando mais leve a sua trajetória. E na medida que o tamanho da carga vai ficando menor, vai serenando o coração da outrora inquieta viajante, os ruídos internos vão se calando, num profundo silêncio que conforta e apazigua a alma. Sigo agora nessa suave toada até o dia que a leveza eterna e definitiva me envolva em seus braços e me faça flutuar consigo.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Por uma ética da alteridade


Na atual da quadra da humanidade onde as relações sociais são pautadas pela supremacia do modelo antropocêntrico sobre o biocêntrico, com a conseqüente hipertrofia do ego e fortalecimento do individualismo, soa como heresia a busca do reconhecimento e da convivência pacífica com o outro, verdadeira antítese ao discurso científico-racional da modernidade, que desconsidera a eticidade da existência do outro, em sua totalidade, não importando quem ele seja.
Reconhecer-se no outro, sem pré-juízos, pré-conceitos, rótulos, etiquetas ou estigmas, mesmo diante da diversidade cultural, étnica, religiosa latente entre os seres, procurando desconstruir modelos de exclusão existentes desde a antiguidade, onde, por exemplo, as categorias das crianças e dos deficientes não existiam no contexto social, os escravos eram considerados “coisas”, entre outras anomalias, é valorizar e construir com o diferente. Também em essência somos todos iguais: humanos, em demasia, como já disse Nietzsche, cidadãos do Universo, sem a exclusão do brilho e da sombra que cerca a natureza humana. Ao mesmo tempo somos todos distintos, sendo que qualquer tentativa de nivelamento, assemelhação, classificação ou manipulação que o valha, soa como dominação, opressão e imposição de “verdades absolutas”.
Quando não nos apartamos do outro, não só vivemos (ato solitário e egoístico), mas, principalmente, convivemos e nos relacionamos com toda a sua riqueza interior, apreendemos os seus valores, acolhemos suas particularidades e nessa aceitação do pluralismo, crescemos e nos fortalecemos. Nesta perspectiva, não há espaço para a intolerância, nem exclusão do diferente. Há uma complementariedade do agir que nos torna inter e intradenpendentes.
Neste tipo ideal de relação alteritária, tão bem detalhada nas obras de Lévinas e Dussel, a racionalização e as idéias pré-concebidas, categorias fundamentais das relações autoritárias, de poder e força, não encontram espaço para disseminar o ódio e o separatismo que alimentam a violência estrutural dos dias atuais. Não há sujeitos-padrão. Quando reconhecemos o outro em nós, descobrimos que somos responsáveis por ele, percebemos, perplexos, que ele tem os mesmos direitos e deveres que nós, não obstante os diferentes graus de compreensão que temos, nós e ele, diante de um mesmo fenômeno.
Instados a nos posicionar diante dessa nova forma de enxergar o outro e o mundo nos deparamos com a necessidade de promover e realizar uma determinada categoria de direitos fundamentais da pessoa humana: direitos de 5ª geração ou direitos de solidariedade/fraternidade, onde estão incluídos o direito à paz, à democracia sem exclusão e desigualdade, em outras palavras, direito a uma vida digna. Como exercício inicial poderíamos começar lançando um “olhar” mais completo à mulher, enquanto “outra”, ser diferente, ente feminino totalmente diverso do homem e, que por isso não pode ser transformada em objeto de opressão, agressão e outras indignidades. A preponderância da violência do masculino sobre o feminino é antiga, desde os sacrifícios das virgens aos deuses, passando por Platão, para quem a única utilidade da mulher era gerar o filho, com uma parada em Aristóteles, que deixou claro na Ética a Nicômaco que o homem livre é animal político e, a mulher, submissa a ele e sua serviçal.
Sob a ótica da alteridade, o ato de “olhar ao redor” nos oferece a oportunidade de ver a realidade do outro, através de seus “olhos”, de sua dor e das circunstâncias que o faz ser como ele é. Não é uma tarefa fácil trocar de lugar com o excluído, com o marginalizado, com o estigmatizado, com o encarcerado....contudo, através desta troca momentânea de identidade podemos compreender melhor todo um estado de coisas e, com isso, tornar legítima qualquer tipo de ação que envolva o outro, afetando-o em sua dignidade e multifacetária existência.
Precisamos aprender a ver o outro com os “olhos do coração”, assim como quem olha um filho dormindo, transmutar a sabedoria Crística de tratarmos o outro da forma como gostaríamos de ser tratado, do plano do “dever-ser”, para o plano do “ser”. Somos mais que as “coisas pensantes” de Descartes, muito mais que os entes heideggerianos abertos ao ser “objeto do mundo”; somos indivíduos libertos e, como tais, devemos cuidar para que nossas relações diárias com o colega de trabalho, com os filhos, marido, com o vizinho, com a natureza, etc, primem pela valorização do ser em si, sem interesses outros (utilitarismo e dominação), apenas respeito, compaixão e escuta ativa, desinteressada.

domingo, 30 de março de 2014

Recuperando a intimidade perdida.....



E a canção que toca no rádio me faz lembrar do quanto estamos sem tempo para nós....
"(....) perigo é ter você perto dos olhos, mas longe do coração ...."
São tantos os compromissos diários assumidos ao mesmo tempo por você e por mim que já não sobra espaço para o essencial de nós dois: cultivar o sentimento que um dia nos uniu.
Não há ausência de amor, apenas falta tempo para exercitá-lo, o que não deixa de ser um perigo, como alerta a música que agora não saí da minha cabeça.
Depois de quase duas décadas de vida em comum essa "intimidade" conta muito, é a liga do desejo, o alimento que mantém a disposição de se estar e permanecer com o outro, verdadeiramente, de corpo e alma.
Nada de aparências, pois o mundo lá fora está repleto dessas artificialidades e de outros estímulos e apelos, que insistentemente nos conclamam a aventuras amorosas, exibindo corpos joviais, tal qual os nossos outrora....mas nada faz sentido nessas esculturas vazias, não há nada aí que nos resgate ou lembre um pouco da emoção de amar e ser amado. Sexo é bom, mas não é tudo.
Então, que tal começarmos a desobstruir a nossa pauta????? rsrsrsrsr
Abrir um espaço na nossa agenda só pra nós dois, sem filhos, famílias, profissão, a nos rodear com suas infinitas demandas....
Falar bobagem, assistir a um filme agarradinhos e depois de um lanchinho rápido, o infinito dos meus braços em seus abraços, beijos quentes e urgentes.
Ainda dá tempo....
A música não acabou pra nós dois. 

domingo, 16 de março de 2014

Depende do olhar



Tudo depende do ponto de vista e das pré concepções de quem olha.
A ausência de perspectiva também é positiva, acredite.
Um certo vazio, estar-se suspenso no ar....o não esperar nada de ninguém ou de alguma situação.
Há um estado de leveza em tudo isso, um bálsamo para mentes e corações demasiadamente alvoroçados, desassossegados.
Num perfeito estado contemplativo, os pensamentos esvaziam-se de conceitos, definições, julgamentos....há só o olhar, a estética, o belo que faz tremer a essência, arrepiar a alma, independentemente da paisagem. Às vezes, só o vento traz essa paz, essa sensação de união com o todo.
Pode ser o não-ver, quiçá só o silêncio, a escuta da vida.
Deixo-me envolver por esta atmosfera de abandono, de comunhão com o Universo. 
Já não sou eu, somos Um com Ele.  

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Do direito ao esquecimento



Numa época em que as informações são eternizadas na esfera virtual, assombrando e reverberando os fantasmas do passado, há que se discutir, não só na seara jurídica-social, como também na psico-emocional, o sagrado direito ao esquecimento, à possibilidade de se reescrever a própria história, refazer rotas e não acessar infinitamente lembranças por demais dolorosas.
Como já disse Freud, a própria existência da pessoa é pautada por processo de remoção de fatos traumáticos que ficam retidos no inconsciente humano, de forma que a consciência da pessoa possa sobreviver sem a dor de eventos indesejados.
O direito ao esquecimento, ao perdão, à não culpa fazem parte de um processo de remodulação do nosso campo emocional, a partir da desconstrução de imagens, símbolos e sentimentos avidamente alimentados desde a mais tenra infância, para que seja possível a sobrevivência do próprio ser, para que se tenha um pouco de paz e o mínimo de qualidade de vida.
Ouso dizer que estamos todos doentes e muitas das nossas enfermidades se retroalimentam dos erros e decisões equivocadas do passado e, numa autofagia sem limites, tal qual Prometeu, vivemos acorrentados e aprisionados pelo pretérito imperfeito, num castigo imposto por nós mesmos, talvez no afã de domesticar nossos instintos mais maléficos.....o medo de enfrentar o ser das sombras que fazemos questão manter trancafiado nos porões do nosso inconsciente.
Vamos nos permitir um alento, deixemos que o bálsamo do tempo leve consigo aquilo que não nos faz bem, memórias negativas e intemperanças que não nos é mais possível modificar. Que permaneçam apenas o aprendizado e a experiência, ingredientes essenciais para a manutenção da esperança de ser, a cada dia, uma pessoa melhor.
Lembra-te de esquecer.

“Viver é um livro de esquecimento
Eu só quero lembrar de você até perder a memória”.
(Elevador, Ana Carolina)

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Faltando um pedaço.


A morte de um amigo me diminui, leva um pouco de mim, dos momentos que não poderão mais ser compartilhados....o sorriso franco e aberto, o abraço sempre amoroso, acolhedor....a mão forte a nos amparar em todos os momentos.
Só ficam as lembranças, que a saudade encarrega-se de reavivar todos os dias.
Há que diga que com o tempo a dor de perder um ente querido vai diminuindo. Eu não acredito. Pelo contrário, quanto mais o tempo passa, mais a ausência cala fundo. O não ver, não poder tocar, não desfrutar da presença, não ouvir a voz, a risada.....é um vazio que o tempo só faz aumentar. A dor não passa, com o tempo só nos acostumamos com ela e vamos aprendendo a preencher a lacuna, o espaço em branco, o vácuo que a falta daquela pessoa acarretou.
Não sei como é a morte pra quem morre, pois estou viva, graças a Deus e não sei de ninguém que tenha morrido e voltado pra contar. Sei o que diz a doutrina espírita sobre isso, pois li muito sobre o assunto e até acho possível e viável a vida pós morte, mas  por enquanto não quero ver para crer.
 Só sei que a morte pra quem fica é dolorida demais, uma dor impossível de ser mensurada e não existe nada que faça cessar o padecimento, o pesar de saber-se apartado para sempre daquele que tanto se estima.
E vamos tratando de lidar com esse sofrimento, dia após dia, até que  a apertura do coração vai encontrando caminhos outros que possibilitam a sobrevivência. A fé, o credo religioso, a busca do sagrado, de algo mais que nos faça suportar a aflição de ser e estar despedaçado.
Pensando bem,  a morte não é um acontecimento único, imediato e repentino, pois tenho pra mim que morremos um pouco a cada dia.
Quando morre um ente querido, morre com ele um pouco de nós e da nossa história. Sepultamos com ele milhões de possibilidades de vida, emoções que não mais serão possíveis de serem vivenciadas.
Hoje mais um pedaço de vida nos foi tirado, uma peça do quebra-cabeça que se perdeu fora da caixa e deixou um vazio impossível de ser preenchido, tornando o jogo sem graça.
Partida interrompida cedo demais meu amigo...assim não dá, acabou a brincadeira!

domingo, 19 de janeiro de 2014

Eu vim de longe....



É verdade, eu vim de longe, com a brisa das quimeras, em busca de concretizar sonhos de tantas vidas.
Parece que foi em outros tempos, em diferentes paragens, pessoa diversa da que sou hoje....que sensação estranha essa de ser tantas em uma só, trazendo comigo um pedaço de cada personalidade, embora sinta que seja a mesma alma, uma essência única.
Um pouco de mim morre a cada hora e, no mesmo instante renasce algo em meu ser que também não é novo, pois sinto que já era eu, tão meu.....eis o mistério do sagrado, o movimento incessante do Universo. Somos todos um com Ele.
E a cada recomeço de ano, de mês, de semana, de dia, sinto que há uma energia nova no ar, que nos convida para uma conexão com a vida que pulsa, vibra e nos conduz para o melhor de nós.
Sigo em frente, buscando manter uma sintonia com esta onda de luz que a tudo envolve e harmoniza, trazendo paz e revitalizando cada partícula da minha estrutura física e também da minha veste espiritual.
Estou na estrada, traçando o meu caminho, com rotas a seguir a perder de vista.
Eu vim de longe e pra muito longe eu vou, enquanto houver sol e vida.