sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Sobre estradas e escolhas





Robert Frost* escreveu de forma tão expressiva: "duas estradas separavam-se num bosque e eu, eu segui pela menos viajada e isso fez toda a diferença”.
Encontro-me exatamente nesse ponto da jornada, em que preciso escolher, mais uma vez, uma das duas estradas....
Na primeira intersecção fiz a escolha correta e cá estou colhendo os bons frutos de um semear ininterrupto e vigoroso.
Agora a opção envolve outros aspectos, muitas necessidades básicas e urgentes de tempos atrás não sem fazem mais presentes. As prioridades mudam na maturidade, os desejos idem. Não há mais nada a se provar a quem quer que seja. Na plenitude da vida adulta o que se busca são outras sensações e realizações.    
E bem quando eu já tinha uma ideia de qual caminho escolher, vem a vida e esfrega bem na minha cara o que realmente importa. Venho, solenemente, ignorando alguns sinais do meu corpo. Já não tenho 30 anos, mas continuo trabalhando e concretizando projetos com o mesmo afinco e determinação de quando tinha 21....vi que não é mais possível manter esse ritmo. Ou eu repenso meu modo de ser e de agir, ou a vida fará isso por mim da pior maneira.
A grande dificuldade é adequar a realidade do corpo, à da alma, mantendo o pensamento e os desejos alinhados nesse complexo sistema. Ouço uma voz dizendo: "Mais vc ainda tem tanto a fazer e a conquistar"..... então ouço uma outra que imediatamente retruca: "Vc já fez muito....agora é o momento de pensar em você e no seu bem estar".  
Final de ano, exausta e com a saúde comprometida em razão de uma abrupta baixa da imunidade, causada por stress, sono irregular e jornadas de trabalho/viagens excessivas, talvez não seja o melhor momento de escolher qual rota seguir nessa encruzilhada, mas 2018 começará, forçosamente, diferente, com a necessária diminuição da carga, do peso e das cobranças, internas e externas. 
Não há maior propósito de vida, do que viver bem, com saúde e ao lado das pessoas que realmente importam e que demonstram, diariamente, o quanto você é importante pra elas, independentemente da utilidade que você possa ter para essas pessoas, do cargo ou função que exerça e respectivos benefícios que isso traz pra elas.  
Pouca coisa faz a nossa jornada terrestre valer a pena, uma delas é usufruir de sentimentos, sensações e emoções verdadeiras. O restante são só distrações, ilusões, o véu de Maya a nos obscurecer a visão, por deleite e armadilhas do Ego. 
Nada tem consumindo tão rapidamente nossas energias do que essas disputas pelo ter, pelo poder e todos os esforços que envolvem a manutenção das vantagens e liderança nesse jogo de aparências, onde as máscaras valem mais do que a essência.
Posso afirmar, sem medo de errar que, apesar de tudo, estou terminando 2017 com um saldo extremamente positivo: praticando o desapego, compreendendo as revelações que tanto o amor, quanto a dor, me trouxeram, refinando os filtros em relação ao que realmente tem importância e, nessa linha, merece minha atenção e a minha energia, buscando a leveza e me afastando de tudo que é emocionalmente e fisicamente, pesado demais para eu carregar (culpas, medos, cargas alheias, etc).
A estrada menos visitada é aquela que eu irei percorrer sozinha, eu e os reflexos da minha escolha.
            





*Robert Frost (1874–1963). Mountain Interval, 1920. The Road Not Taken. No original: “Two roads diverged in a wood, and I — / I took the one less traveled by, /And that has made all the difference”.