quarta-feira, 8 de junho de 2016

Na meia noite da alma




"O homem, quando jovem, é só, apesar de suas múltiplas experiências. Ele pretende, nessa época, conformar a realidade com suas mãos, servindo-se dela, pois acredita que, ganhando o mundo, conseguirá ganhar a si próprio. Acontece, entretanto, que nascemos para o encontro com o outro, e não o seu domínio. Encontrá-lo é perdê-lo, é contemplá-lo em sua liberrérima existência, é respeitá-lo e amá-lo na sua total e gratuita inutilidade. O começo da sabedoria consiste em perceber que temos e teremos as mãos vazias, na medida em que tenhamos ganho ou pretendamos ganhar o mundo. Neste momento, a solidão nos atravessa como um dardo. É meio-dia em nossa vida, e a face do outro nos contempla como um enigma. Feliz daquele que, ao meio-dia, se percebe em plena treva, pobre e nu. Este é o preço do encontro, do possível encontro com o outro. A construção de tal possibilidade passa a ser, desde então, o trabalho do homem que merece seu nome."

Mensagem enviada por Hélio Pellegrino a Fernando Sabino.

Na minha adolescência tinha esse texto escrito na agenda, de forma que eu pudesse lê-lo a todo momento e extrair dele a força e o alento para prosseguir na minha jornada.
Hoje, revisitando esse conteúdo já tendo transposto o "meio dia da vida", sinto que a solitude do meu "entardecer" é mais que um isolamento voluntário, é uma viagem sem volta pra a essência, escavando e revirando as raízes do meu ser para assim manter viva a chama sagrada, a energia vital, o sopro da criação divina que transcenderá a tudo e a todos, luz perene na meia noite da alma.
E nesse eterno garimpar de emoções e sensações, vou me deixando escorrer por entre rios pungentes, dissolvendo enganos e costurando desilusões....há ouro sob a capa escura do carvão, diamantes submersos repousam no âmago das rochas petrificadas pela ação de vulcões. E já perto do anoitecer ainda sonho com a claridade das estrelas e com a paz da imensidão lunar, para assim saber me perder naquilo que nunca pude me encontrar.