segunda-feira, 13 de junho de 2016

Vale quanto pesa.


Quando eu era menina gostava de ficar cheirando os sabonetes dispostos nas gôndulas do supermercado, um mais cheiroso que o outro, principalmente os que eram embalados em caixas pomposas e que custavam bem mais caro que os outros, mais populares.
Cheirava todos, mais sabia que a realidade da minha família contemplava somente o tal do "vale quanto pesa", um sabonete cujo próprio nome já dizia tudo: era um tijolão, pesado e que não acabava nunca!! Tinha um cheiro forte e enjoativo e nem de longe lembrava os banhos de cachoeira que a propaganda alardeava, não no quesito prazer....deixa pra lá, era o possível para a época e o tal item de higiene pessoal até que cumpria a sua missão com galhardia e altivez, sem fazer feio aos Phebos e Almas de Flores da vida.
Essa lembrança da década de 80 tem a ver com essa sensação que sinto, em relação a algumas pessoas, de só valer pela minha utilidade (peso/posição/cargo) e não pelo que realmente eu trago em mim. Tudo bem, eu admito que a minha "flagrância" não é das mais doces e minha "embalagem", diga-se de passagem, é do tipo "econômica", sem os refinamentos e atrativos do gênero, mas mesmo assim, não é nada agradável essa percepção de ser "usada" quando convém e, logo a seguir, ser solenemente ignorada. 
É aquela velha história, há pessoas que te procuram e te tratam bem somente quando precisam de você e desaparecem quando os seus préstimos já não são mais necessários, ou seja, você só vale quando é útil, nem mais, nem menos. 
A conveniência e o interesse são as engrenagens que movem esse tipo de gente oportunista e de quem há que se manter distância razoável, em atenção ao mais primitivo instinto de autopreservação.
Seres desse tipo são descritos por José Ingenieros em seu livro, "O Homem Medíocre", da seguinte forma:"O medíocre limita seu horizonte afetivo a si mesmo, à sua família, aos seus camaradas, à sua facção; mas não sabe estendê-lo até a Verdade ou a Humanidade, que apenas pode apaixonar ao gênio".
Pois é, para enxergar e acolher a humanidade do outro é preciso ser "humano", na acepção mais completa da palavra,  para contemplar o ser na sua total inutilidade, desprovido de qualquer valia ou vantagem que ele possa lhe proporcionar......olhar o outro com o mesmo olhar que se olha o filho pequeno que dorme no berço, inocente e alheio a tudo o que move o mundo.
Valor sem peso, sem medida, sem dar nada em troca. Valer por si só, sem preço, nem contrapartida.
Quem sabe um dia....