segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Dilema: + 1 ou - 1?


Dilema, palavra de origem grega dillemma.atos, tem como elementos fundantes do seu conceito (dupla proposição, di- "dois" e lemma- "premissa, algo aceito como verdade") a contradição e a escolha. Ou seja, filosoficamente falando, estou diante de um dilema quando o meu raciocínio parte de duas premissas contraditórias e mutuamente excludentes, mas que paradoxalmente terminam por legitimar uma mesma conclusão.


No caso, estou diante de um dilema: 2019, mais um ano de vida ou menos um ano de vida???  em pleno dia 31 de dezembro, época de celebrações, comemorações e muitos planos para o ano vindouro. O mundo em festa e eu em profusão de questionamentos, explodindo tal qual fogos de artifício dentro da minha cabeça de menina maluquinha, apesar dos 53 anos de estrada....


O fato do "ninho estar vazio" colabora para este estado meditabundo e meio outsider....deveras complicado, como diria Hélio Pellegrino em carta a Fernando Sabino, no prefácio de "O Encontro Marcado", sinto a solidão atravessando-me como um dardo e em plena treva (La noche escura del alma, poema lindo do século XVI, escrito por São João da Cruz, poeta espanhol e místico cristão). 

Na carta, Pellegrino joga luzes sobre outro grande dilema: "O homem, quando jovem, é só, apesar de suas múltiplas experiências. Ele pretende, nessa época, conformar a realidade com suas mãos, servindo-se dela, pois acredita que, ganhando o mundo, conseguirá ganhar-se a si próprio. Acontece, entretanto, que nascemos para o encontro com o outro e não o seu domínio. Encontrá-lo é perdê-lo, é contemplá-lo na sua libérrima existência, é respeitá-lo e amá-lo na sua total e gratuita inutilidade. O começo da sabedoria consiste em perceber que temos e teremos as mãos vazias, na medida em que tenhamos ganho ou pretendamos ganhar o mundo. Neste momento, a solidão nos atravessa como um dardo. É meio dia em nossa vida, e a face do outro nos contempla como um enigma. Feliz daquele que, ao meio-dia, se percebe em plena treva, pobre e nu. Este é o preço do encontro, do possível encontro com o outro. A construção de tal possibilidade passa a ser, desde então, o trabalho do homem que merece o seu nome".

No último dia do ano de 2018 ser tragada por esse turbilhão de pensamentos, sentimentos contraditórios, planos para o futuro e ter  ainda que preparar guloseimas para o jantar é de lascar, e no meio disso tudo, arrumar tempo para escrever besteiras e esvaziar o "peso" no meu divã virtual. 

O dilema está posto e, apesar da cumulonimbus que estacionou irregularmente sobre a minha cachola (vai levar multa!), eu escolho acreditar que terei mais 365 dias gloriosos, com todas as possibilidades de inovar, reinventar, errar e tentar de novo, fazendo o que entendo o mais apropriado. Pode parecer lugar comum dizer que a vida é tão rara, mas não é! Cada existência é uma dádiva sagrada que merece ser celebrada e bem aproveitada, para que ao final, no momento da partida, o último e libertador sopro seja de agradecimento e de alegria por ter conseguido cumprir a missão (dharma). 

Vamos lá para 2019 e fazer valer a pena a estadia terrestre, uma importante e prazerosa etapa da nossa jornada rumo à eternidade! 


      



quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Novo tempo



Soprando pra longe os restos de um ano um tanto tormentoso, marcado por um carrossel de emoções ambíguas, lágrimas, despedidas e muitas mudanças.
Nem tudo foram espinhos nesse mar de flores. Há muito pra comemorar, por exemplo, o enfrentamento de tantas adversidades sem necessidade de "muletas" e coadjuvantes. Sempre fui eu, de cara limpa e coração aberto. 
Período de aumento da capacidade de perceber as coisas como realmente são, sem a lente embaçada pelo Véu de Maya. A realidade da forma mais crua, sem distorções românticas e sem as lentes limitadoras dos meus pré-condicionamentos e pré-conceitos. Tudo é e sempre será, independente da minha compreensão sobre isso.
Um novo tempo se aproxima e eu sigo soprando ao vento da vida as sementes dos meus de desejos, dos meus anseios e das minhas esperanças. A eterna magia do recomeço, a ideia sempre presente de que "cada respiro é uma segunda chance", uma aventura e um caminho desconhecido a se trilhar, com a força e a leveza de quem sabe, no íntimo, que pra voar e aproveitar todas as oportunidades é preciso desnudar-se da própria e frágil origem.
Num sopro vigoroso, corajoso e libertador espalho versos, bendições e alguns lamentos de saudade...pronta para o que vier, para um novo ano, um novo tempo e novos "eus" que ainda brotarão de mim.  



    

domingo, 21 de outubro de 2018

Filha do Tempo Presente



O poeta místico persa Udin Rumi, fundador da ordem dos dervixes, costumava dizer que o homem de bem "é filho de tempo presente e da tarefa perfeita". As lembranças do que já aconteceu pouco interessam àquele que vive integralmente sua vida: seus planos para o futuro têm o seu lugar, mas são apenas projetos. "Filho do tempo presente", o homem de bem a que se refere Udin Rumi está todo tempo aqui, e vive eternamente o agora. Porque está vivo e põe a alma em cada coisa que faz, realiza suas tarefas do modo mais próximo possível da perfeição.


Luiz Carlos Lisboa
Nova Era


Esse texto reflete bem o sentimento que me invade nesse momento e através dele expresso minha gratidão a todos que, de alguma forma, estiveram e ainda permanecem ao meu lado nesse período tão significativo da minha vida profissional e pessoal. 

Tempo valioso, de escuta, aprendizado e necessário realinhamento. 

Na trilha do meu darma, sigo trabalhando com amor e afinco, como sempre fiz, certa de estar cumprindo, da melhor forma possível, a missão que me foi destinada.

Sou filha do tempo presente.




 

  







terça-feira, 28 de agosto de 2018

Nigredo



Nigredo é uma palavra oriunda do Latim e pode ser traduzida como escuro. Na Mística é utilizada para descrever o primeiro passo do processo alquímico, qual seja: a morte espiritual, estágio de decomposição ou putrefação. Ato contínuo, tem-se os ciclos da purificação (albedo), do despertar (citrinitas) e o da iluminação (rubedo).  

Para Jung esta primeira etapa está relacionada à aceitação e integração da sombra, ou seja, das emoções, intuições, percepções e desejos que escondemos nos porões da psique, em razão da inadequação com os ditos padrões morais e éticos de uma determinada época e grupo social ou por revelarem defeitos e imperfeições que temos e não aceitamos.

Acessar essas áreas obscuras e encarar esse lado sombrio não é uma tarefa das mais fáceis e exige a coragem que tiveram Hércules, Orfeu, Enéias e, tempos depois, Dante e Virgílio, ao se aventurarem no Barco de Caronte, pelo rio do infortúnio.

A travessia desse deserto ou a passagem pela noite escura da alma, como bem definiu São João da Cruz, precisa ser feita a fim de que a nossa essência seja acessada, uma verdadeira itinerância em busca de discernimento, crescimento e aprimoramento espiritual.

Bem sei que desse ponto em diante não existe recuo. É um caminho sem volta. Sempre em frente e enfrente! Essa noite sombria é um divisor de águas, o prenúncio da transmutação, ressignificação e libertação de tudo que impede o fluir natural do eu e da vida

Há um oásis a espera daqueles que enfrentam as águas pantanosas do Estige e delas saem renovados e fortalecidos. E é esse sopro benfazejo que tem guiado a minha jornada, insuflando coragem em minhas entranhas e mantendo acesas as chamas dos meus ideais. É também ele que sussurra em meus ouvidos: - Não há o que temer, você está no caminho certo e fazendo o melhor possível. Siga em frente e mantenha-se em sintonia com os seus princípios e valores.

E assim, prossigo e confio. 

Sob a capa de carvão já vislumbro o fulgor do diamante.     

        

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Mudanças exigem sacrifícios



Grandes transformações exigem esforço concentrado para com o objeto ou a situação que se quer mudar. Em outras palavras, não há mudança sem sacrifícios, renúncias e trabalho duro. 

O paraíso que se busca não cairá do céu e nem tampouco será o resultado de um amontoado de reclamações desacompanhadas de ações concretas no sentido de modificar o que não está bom.

Na atual quadra as redes sociais fez surgir um ativismo preguiçoso e superficial, onde muitos reclamam de tudo e poucos se dispõem a fazer algo de consistente para mudar a realidade que reputam ruim. 


Há que se reconhecer a dificuldade que algumas pessoas tem de abandonar suas zonas de conforto, arregaçar as mangas, colocar as mãos na massa e fazer algo acontecer. É mais cômodo manter-se fora da arena e, como mero espectador, aceitar o que vem pronto, vociferando quando o espetáculo não lhe agrada, esquecendo-se de que quando foi chamado a escrever o roteiro, omitiu-se. 


Aprecio aqueles que demonstram disponibilidade para o trabalho duro, que estão sempre prontos para ajudar numa tarefa complexa, almas corajosas que tomam para si a responsabilidade pelas mudanças que querem ao redor, sabendo que o ponto de partida é mudar a própria perspectiva que tem de si, do outro e do mundo.
Aves raras.
Céu vazio.


terça-feira, 19 de junho de 2018

O Canto das Sereias




"Se a gente cresce com os golpes duros da vida, também podemos crescer com os toques suaves na alma"
Esse verso traduz não só a trajetória da doceira e poetisa goiana, Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, ou simplesmente Cora Coralina, como também a de muitas outras pessoas, inclusive eu, que apesar do couro endurecido pelas pancadas da vida, não dispensam o lenitivo da música, da fotografia e da poesia para amenizar o ardor perene das cicatrizes.


Há que se fortalecer o espírito e petrificar a carcaça quando se é ousado o bastante para lançar-se ao mar revolto das vaidades humanas, sonhando os próprios sonhos e defendo posições e ideais num Olimpo de deuses autofágicos e sabotadores.

Rejeições implícitas e explícitas, pequenas tramas e traições, armadilhas diárias sorrateiramente plantadas no caminho e todo o tipo de ardil típico desse jogo de poder, com o claro escopo de pulverizar o opositor, olvidando-se que somos TODOS UM, ao fim e ao cabo. 

Planos de poder pessoal prevalecendo sobre os interesses de todos. 

E nessa batalha sangrenta e silenciosa em terra de egos gigantes, perdem todos....uns perdem a máscara e as verdadeiras faces e motivações se revelam; pessoas são desnudas frente a um olhar mais atento.... a inescapável essência emerge: pequenina e assaz virulenta, em muitos casos, mas nem tudo está perdido, há quem cultive, a duras penas, sua natureza lírica e íntegra em meio a esse pântano e em absoluto anonimato, mantém viva a esperança e continuam a semear um porvir mais promissor. 

Estejamos atentos e fortes, tal qual Ulisses, ao enganoso Canto das Sereias. 

Que os nossos valores, princípios e ideais continuem a ser as sólidas amarras que nos atam ao mastro da Nau e não nos permitam sucumbir ao desejo ilusório de gozo fácil, individual e imediato. 

A sedução que as cigarras e as sereias exercem é uma arma letal para os incautos que se de deixam levar pela beleza de suas oratórias, digo, cantos. 

Para sobreviver precisamos mais que isso.

O desafio posto é ouvir esse canto, refletir sobre seu alcance, sua real concretude e sobreviver/resistir a ele, refutando-o com racionalidade. 

É preciso abdicar de uma vantagem pessoal que lhe será ofertada (prazer momentâneo e individual), em prol de conquistas perenes e tempos melhores para todos. 

Vamos ver quantos conseguem. 

Já não somos mais marinheiros de primeira viagem. 

Estou a contar os corajosos.

1 (um).  

     
         

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

μακάριος/Makários



Bem-aventurados os puros de coração, os que se doam de corpo e alma ao outro e, num abraço forte de proteção e cuidado, curam nossas dores e nos devolvem a nós mesmos.
Bem-aventurados os que passam pela vida trazendo amor e esperança para a vida dos outros.
Bem-aventurados os que amam em silêncio, através de simples ações e sem alarde.
Bem-aventurados os que enxergam o outro através da lente da compaixão e do perdão.
Bem-aventurados os que trazem no olhar todos os sonhos do mundo e colorem de pôr-de-sol o cinza dos dias tristes.
Bem-aventurados os que despertaram para a vida nas asas de um Colibri, ouvindo o canto do Uirapuru.         
Afortunada sou eu por ter você como companheiro de jornada.
Abençoada sou eu por ter te encontrado em e meio a tantos desencontros.
Gloriosa e agraciada, sou só gratidão.